quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O tropel dos louquinhos (Parte 1 - Inacabada - Iguais)

Névoa leve naquela cidade do interior do estado de São Paulo. Fim de dia quente por lá. Zé Miséria, filho de Zé do Burro, como das outras vezes, se desequilibrava no beiral do chafariz. Tinha a barriga cheia de sopa de ervilha e a língua acumulada de desditas de palavrar. A menina, que tinha por costume parar o olhar sobre o moço pra escutar suas dizisses agora já era grande e também estava por lá. Assim como o Mocóca, o Budigué, o Maiscomeno, o Zucupim e a Maria Pina.

O Miséria punha a mão como se bloqueando o sol da testa e logo todos percebiam que já vinha uma. “Na premera vez que mi vi meu reflexo, tive minhas idéia tomada de uma certeza!”. Maria Pina bateu palmas, achando que já tinha terminado. Zucupim censurou: o Maria, segura a mão que esse é só o começo! Quentineia, homem. Ruborizado e orgulhoso pela preocupação do amigo em ouvi-lo, Zé colocou o dedo em riste, e no beiral do cospe águas, montou uma pose de político: “Na premera vez que mi vi meu reflexo, tive minhas idéia tomada de uma certeza! Somos tudo iguais: o mesmo enxergar plantado no branco, a mesma cabeleira penteiando o sol”. Os olhos da menina brilharam. Os aplausos da pequena multidão acabaram com o quase silêncio que acolhia aquele começo de noite. Zé começou a chorar.

Mocóca fez corrida até o amigo, agora sentado na direção da escultura de anjo nu, os pés dentro do chafariz vazio. “Que é que foi, dor nas redundâncias?”. O outro, ainda recolhido num dentro distante, foi retornando num balbuciar que aos poucos tornou-se palavra. “Antes me fosse isso, meu amigo-companheiro-amigo-companheiro”. “E o que é?”. “Perdi a Pafúncia!”. Mocóca entrou de coro no lacrimar do amigo. Soluçou, antes de abrir-se em um berreiro: “Essa é a perda mais perdinolenta que eu já vi”.

Zucupim sabia que o único jeito de fazê-los alegres novamente, era elogiá-los. O Miséria adorava uns adjetivos e Mocóca tinha os ânimos contamináveis. “Ora, vocês dois, duas pessoas tão figolomélicas chorando desse jeito! Zé, você é tão...amopostólico...cacetumálico...jeitolocronicro. E tu, Mocóquim, ó: salucosmático...quermicolânico...festelecótico. Vamos sorrir, vamos?” Maria gargalhava, ouvindo o Zucupim, que era seu namorado, falando daquele jeito. Zé também foi encontrando caminho de boca e olhos prum leve sorrir de satisfação. Mocóca fez cara aprendida com Zé-letré (filho do vizinho da tia dele), de prender o chorar e estar sério.

Maiscomeno e Budigué, também andavam mal dos humores. Um, que não ouvia, era enamorado pelo outro, que não falava, e que não encontrava correspondência de sentimentos. Os dois tinham brigado na noite anterior. Foram tantos gestos feios, que os dois estavam com as mãos metidas nos bolsos cheias de caibras e doloridos.

(continua - acabou meu tempo na pró-launo)

3 comentários:

Anônimo disse...

gostei do seu blog,qndo der visita lá o meu :)
bjs!

l u a * disse...

não sei, não sei.
sentiria eu no ar um não-sei-o-que de existencialismo.?
não sei, talvez.
(acendo o cigarro, ignoro o olfato, boto os olhos pra correr atrás de comida-palavra)

l u a * disse...

eu queria ler mais.
eu queria te encontrar mais.

(mesmo nessa vida-de-mentira.)