sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Este blog natimorto agora dorme. Mas ainda insiste, continua a insistir.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

- Como eu chego na Avenida Presidente Figueiredo?

- Vire ali na Rua Tortura, depois a segunda à direita na Prendo e Arrebento, então é só seguir reto que você vai cruzar a Avenida Presidente Figueiredo.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Trecho inacabado - Hipérbole - Exercício de expressionismo literário


Os dentes, do tamanho de prédios arranha-céus, subindo e descendo, naquela mastigação boquiaberta. Tez cor de couro de camelo, com grandes poros dos quais brotavam enormes gotas de suor, as quais se penduravam em uma vasta penugem preta espalhada pelas faces. Cabelos louros – descoloridos - e despenteados, compridos como o Amazonas. Arregalava os olhos cada vez que dirigia uma nova garfada em direção ao buraco esgarçado que chamava de boca. O nome era Auxese. Escolha do pai para a primeira filha que tinha rebentado da barriga de sua esposa Bárbara.
As pernas, anormalmente compridas, eram quebradas no meio por um joelho muito saliente. Seus movimentos imitavam alguém que anda dentro da água. As ancas, muito retas – que quase não empreendiam relevo no vestido rosa de arder os olhos – ensaiavam ir para um lado e para o outro, mas apenas a cintura se mexia pendularmente. As mãos permaneciam quebradas para cima, contrariando a gravidade, os dedos indicadores em riste pareciam sempre apontar alguma coisa. As unhas – muito compridas – pareciam perfurar o ar para abrir caminho para que ela passasse.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

- Era oncologista da família real. Ganhava a vida cuidando de aristopróstatas.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O tropel dos louquinhos (Parte 1 - Inacabada - Iguais)

Névoa leve naquela cidade do interior do estado de São Paulo. Fim de dia quente por lá. Zé Miséria, filho de Zé do Burro, como das outras vezes, se desequilibrava no beiral do chafariz. Tinha a barriga cheia de sopa de ervilha e a língua acumulada de desditas de palavrar. A menina, que tinha por costume parar o olhar sobre o moço pra escutar suas dizisses agora já era grande e também estava por lá. Assim como o Mocóca, o Budigué, o Maiscomeno, o Zucupim e a Maria Pina.

O Miséria punha a mão como se bloqueando o sol da testa e logo todos percebiam que já vinha uma. “Na premera vez que mi vi meu reflexo, tive minhas idéia tomada de uma certeza!”. Maria Pina bateu palmas, achando que já tinha terminado. Zucupim censurou: o Maria, segura a mão que esse é só o começo! Quentineia, homem. Ruborizado e orgulhoso pela preocupação do amigo em ouvi-lo, Zé colocou o dedo em riste, e no beiral do cospe águas, montou uma pose de político: “Na premera vez que mi vi meu reflexo, tive minhas idéia tomada de uma certeza! Somos tudo iguais: o mesmo enxergar plantado no branco, a mesma cabeleira penteiando o sol”. Os olhos da menina brilharam. Os aplausos da pequena multidão acabaram com o quase silêncio que acolhia aquele começo de noite. Zé começou a chorar.

Mocóca fez corrida até o amigo, agora sentado na direção da escultura de anjo nu, os pés dentro do chafariz vazio. “Que é que foi, dor nas redundâncias?”. O outro, ainda recolhido num dentro distante, foi retornando num balbuciar que aos poucos tornou-se palavra. “Antes me fosse isso, meu amigo-companheiro-amigo-companheiro”. “E o que é?”. “Perdi a Pafúncia!”. Mocóca entrou de coro no lacrimar do amigo. Soluçou, antes de abrir-se em um berreiro: “Essa é a perda mais perdinolenta que eu já vi”.

Zucupim sabia que o único jeito de fazê-los alegres novamente, era elogiá-los. O Miséria adorava uns adjetivos e Mocóca tinha os ânimos contamináveis. “Ora, vocês dois, duas pessoas tão figolomélicas chorando desse jeito! Zé, você é tão...amopostólico...cacetumálico...jeitolocronicro. E tu, Mocóquim, ó: salucosmático...quermicolânico...festelecótico. Vamos sorrir, vamos?” Maria gargalhava, ouvindo o Zucupim, que era seu namorado, falando daquele jeito. Zé também foi encontrando caminho de boca e olhos prum leve sorrir de satisfação. Mocóca fez cara aprendida com Zé-letré (filho do vizinho da tia dele), de prender o chorar e estar sério.

Maiscomeno e Budigué, também andavam mal dos humores. Um, que não ouvia, era enamorado pelo outro, que não falava, e que não encontrava correspondência de sentimentos. Os dois tinham brigado na noite anterior. Foram tantos gestos feios, que os dois estavam com as mãos metidas nos bolsos cheias de caibras e doloridos.

(continua - acabou meu tempo na pró-launo)

Surgiu um clima de intolerância total (à lactose)

Se os meia cura fossem inteiros, talvez salvassem a vida de alguém. Enquanto os parmesões, estes nunca estão dispostos a servir aqueles que tem parmesinhas. O emmental me veio com uma pose inntelectual e uma atitude temmperamental: faltou no fundue que marcamos em julho, não foi na data de remarcagem e disse que não gosta de sair no calor e só volta no ano que vem. O queijo fresco é empolado, nunca aceita algo diferente de seu gosto ( e ele diz que tem um gosto). O prato, quase me quebrou os dentes quando quis mordê-lo. Cheddar foi confundido com uma sacola plástica (laranja, mas plástica e o cheiro...eca). O qualho derreteu e mergulhou num mar de cinzas na lata de tinta Suvinil. A mussarela envelheceu na geladeira e ficou pior que o meu xulé. A ricota morreu de desgosto e o provolone estava em uma corrida entre quatro queijos e sofreu de ataques e e enjôos. O gorgonzola, que horror: alguém me disse que andava sempre mofado, mal apeado, que tinha até manchas verdes, hálito forte e coisas parecidas. E o gruyère, o camembert, o brie e o roquefort...ora, esses eu nem falo a língua deles!

E foi assim que surgiu aquele clima: eu aqui, eles ali, na maior intolerância. Diziam que eu não sabia comer, que mastigava com muita pressa, não sentia o sabor, não degustava as peculiaridades. Me acusavam de apenas ver seus defeitos e apontá-los com desfeita, de rir dos seus processos de feitura, não respeitar as combinações e cometer excessos.

Ninguém ali me queria mais e aos poucos fui deposto da cozinha. Nisso, meu intestino rugia, querendo briga a todo momento (e eu, com muito custo, segurando os seus intentos).

Foi por isso e desde então, que me exilei em uma rotina: em todos os meus lanches, o pão com margarina.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Do néctar e passarejos

Acordo. Me espreguiço. Sinto na brisa leve o doce néctar do que chamamos de ser e de estar. Uma xamã me disse que eu deveria comer mais raízes. A prata das águas, como ontem e como amanhã (quando o tempo não nubla), reflete o mesmo sol que avistamos no céu. Devem ser oito agora. Lembro-me que tinha reservado este momento para pensar a cultura. Essa pequena auto-cobrança desperta a minha rebeldia. Resolvo colher pedras.

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O cachorro é efusivo ao me perceber. Algo na minha linguagem, em como eu escrevo essa coisa toda, me incomoda. Pulos, lambidas e empurrões. Logo o focinhento pula-pula não dedica mais sua atenção a mim e passa seguir alguma trilha de cheiros. Como posso abordar a cultura nesse momento? Um aspecto unicamente antropológico deixaria muita coisa de lado. Acho melhor adiar um pouco mais esses pensamentos.

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Recolho um pedregulho. Começo a compor um dialogo. Somos o eu de agora e o eu menino pequeno.

Eu: O que é existir?
Menino: É estar vivo. Estar sendo. Ter sido.
Eu: Mas.
Menino: Oi?
Eu: As pedras. Elas existem?
Menino: Sim. Olha aqui. Posso pegar e tacar lá longe e sentir bem o cheiro dela, que é cheiro de coisa suja.
Eu: Então existir não é só o que está vivo. Será que é tudo o que se pode sentir? É o que pode ser sentido?
Menino. É.
Eu: E a noite, como a gente sente a noite?
Menino: Pelos olhos, pelo medo.
Eu: E as idéias?
Menino: Que é que tem as idéias?
Eu: Como é que a gente sente as idéias?
Menino: Ué, tendo elas, jogando elas fora, contando para os outros, guardando pra gente.

Volto da conversa e jogo o pedregulho disforme longe. Existir: o que se pode sentir. Uma pedra não pode me sentir. Eu existo para a pedra? Provavelmente não. Mas mesmo assim eu posso arremessá-la longe ou carregá-la no bolso para onde for. Se quiser, a jogo em um preparado de concreto e construo um prédio com cento e dezoito andares com ela ali no meio. Em que andar iria parar aquele pedregulho? Vigésimo andar: meias, roupas de baixo e roupas de praia. É lógico que todo esse pensamento só é possível dentro dos meus preconceitos. Para alguns habitantes do extremo norte do Brasil aquela pedra é um ser exatamente como eles e tal reflexão sobre o mundo não existir para ela provavelmente causaria risos.

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Não me achem original, por favor. No fundo, estes são questionamentos eternos dos humanos ocidentais, enraizados em uma cultura que guarda uma historicidade mundial, mas que foi bastante estruturada na Europa em períodos específicos (Será que eu disse alguma coisa ou eu não disse nada? We vote for nada!). Hamlet, o ator-louco-ator rubricado por Shakespeare já se perguntava: existir ou não existir, esta é a questão.

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O mais verossímil para mim é que a existência nem sempre existiu e, portanto, foi inventada pelo homem. Resta saber: ao dar origem à existência, estávamos apenas nomeando um sentimento latente ou esse é um conceito construído? Neste momento me vem na cabeça a idéia da morte. Certamente a existência surgiu baseada na inércia que assumimos quando nosso organismo deixa de funcionar, quer dizer, baseada no espanto daqueles que ficam e não sabem o que aconteceu com aquele que se (foi?). Francamente! Então a existência, o existir, está baseado em sentimentos! Isso quer dizer que na verdade ela já existia antes de sua origem-nome? Não. Não e sim. Na praticidade de dizer o vivo existe, o morto não existe (eis uma simplificação binária do existir, sem considerar a pedra e a noite), apenas nomeando situações-sentimento, pode se dizer que esse existir estaria posto (sem uma designação, claro) até para os animais, ou seja viria de antes. Assim, o medo de deixar de existir também estaria posto aí. De qualquer maneira, a partir do momento que essa idéia –existir e não-existir – entra no repertório do homem, ela passa a ser culturalmente construída e rompe, de certa forma, com a sua pré-existência (onde estaria mais perto da natureza). Céus! Como esse trecho ficou chato!

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O nascimento das idéias-conceitos, pelo menos dos primeiros deles (e existir provavelmente está entre os primeiro deles), ainda eram muito ligados à natureza, já que o homem não tinha um repertório argumentativo-retórico-abstrato muito grande. Porém, a humanidades aplica suas vivências, imaginação e vontades às suas idéias e assim, elas se tornam tão orgânicas quanto ela. E de repente, Deuses existem, a sorte existe, a nuvem existe e por aí vai (eu quis repetir o último trecho da coisinha de cima mesmo).

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Bom, agora eu queria, sem ter lido “O ser e o Tempo” e “O ser e o Nada”, dar um chute no existencialismo. (Me desculpem, mas vou interromper toda essa argumentação de castelo de cartas no meio. Alguém aqui pensou que este texto era sério?). Desprezando a construção cultural do termo existir - e Clarice Lispector que me desculpe com toda suas divagações literárias - nossa única reflexão decai sobre a vida e a morte. Estar vivo, poder morrer e estar morto. Joga-se no lixo uma grande pilha de livros – principalmente franceses e principalmente dos anos sessenta – que discutem a existência dentro de uma claustrofóbica concepção culturalmente limitada e enauseante, como o teatro no Brasil, que é feito apenas para pessoas que também fazem teatros – uma discussão fechada dentro de um único recinto. Pronto, é isso: insinuo que o existencialismo não é universal, que não é um questionamento do homem em si e que – entre comunhões com baratas ou árvores – pode ser entendido como uma doutrina. (O departamento do estado de São Paulo acaba de declarar o jovem Javier Mamesco – este que vos escreve – como um grande prepotente, ambicioso, ousado, vulgar e biruta o bastante para contestar pilares de nossa cultura sem ter conhecimento, linguagem, entendimento e qualquer outra coisa suficientes).

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No final, penso que pouco falei de cultura, fui um pouco chato e talvez não tenha dito nada. Nem expliquei direito o que é esse existencialismo que eu insinuei não ser universal. Bom, pelo menos, um verso bonito me vem à cabeça: aquilo que há de insuficiente em mim é o que me da forças e como tudo em mim é insuficiente, quando reclamo de fraquezas tenho qualquer coisa de exagero em meus dizeres. Chamo o cão para perto de minha mão, onde eu possa acariciá-lo. Sinto um alívio: Esta noite, quando me deitar, serei menos existencialista do que era ontem, ou pelo menos me sentirei assim. Dormirei muito melhor. Algo ecoa com um sabor de riso, medo e ternura na parede do meu quarto: e o que a gente faz enquanto ela não chega?